Infraestrutura Administrativa de Código Aberto

Relatório sobre a ampliação do uso de softwares e plataformas livres
pela equipe profissional do Wiki Movimento Brasil
segundo semestre de 2024

Apresentação

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Em 2024, o Wiki Movimento Brasil (WMB) considerou dar início a um processo gradual porém consistente de adoção de softwares e plataformas livres por sua equipe profissional. Essa preocupação se legitima na medida em que o WMB busca demonstrar consistência com os valores do movimento Wikimedia e do conhecimento livre como um todo. Ao considerar adotar softwares livres, a organização demonstra ainda seu compromisso com os princípios éticos do movimento, como a liberdade de uso, estudo, modificação e distribuição das ferramentas utilizadas. Tal compromisso estabelece diálogo direto com um dos eixos estratégicos do WMB, que é o de (re)imaginar a infraestrutura sociotécnica do Movimento Wikimedia e, fazendo referência ao documento intitulado Teoria da Mudança, relaciona-se também com a questão da cultura organizacional e processos integrados de documentação e aprendizado, respondendo à questão de em quais capacidades organizacionais houve alguma evolução e quais ainda precisam ser desenvolvidas.

Cabe notar que tal mudança pode implicar não apenas progressos e, assim, este documento é também uma busca por antever desafios, fatores limitantes e possíveis soluções para a operacionalização do referido processo. Desse modo, a partir da experiência compartilhada por algumas das organizações filiadas à Wikimedia Foundation, esse documento traz ideias acerca de caminhos possíveis e da aplicabilidade de casos às organizações filiadas, bem como um cronograma de ações que serão conduzidas pelo WMB no segundo semestre de 2024 e no primeiro semestre de 2025, na forma de anexo.

Contextos

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Contexto geral

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A adoção de software livre por organizações que se dedicam ao conhecimento livre não é apenas uma escolha pragmática, mas é também uma decisão estratégica e filosófica que reflete valores fundamentais de movimentos como o do conhecimento livre e o Wikimedia. O próprio movimento Wikimedia já faz isso por meio da iniciativa FLOSS-Exchange, uma página wiki para organizações sem fins lucrativos compartilharem experiências com software livre e de código aberto. Neste contexto, a importância da equipe profissional de uma organização alinhada a esses movimentos é multifacetada e merece análise pormenorizada, passando não apenas pelo alinhamento geral da missão organizacional e àquilo que é preconizado por grandes organizações globais relacionadas à educação, tecnologia e conhecimento, mas também por questões técnicas e específicas como as relacionadas ao potencial de colaboração, de segurança e da redução de custos ligados a licenciamento.

No contexto externo e internacional, um documento de ampliação de uso de software livre como este está alinhado àquilo que é preconizado por organizações de respaldo internacional como a Open Knowledge Foundation (OKF) e as Organização das Nações Unidas e suas agências, em especial a UNESCO. No primeiro caso, pode-se citar a open definition e, no caso da ONU, o Pacto Digital Global (GDC, na sigla em inglês) e o projeto intitulado Software Heritage, do qual a UNESCO é colaboradora.

De modo mais detalhado, a open definition publicada pela OKF é uma declaração que define os princípios fundamentais do que significa algo ser "aberto" no contexto de conhecimento, dados e conteúdo. O GDC, por sua vez, é uma iniciativa conduzida pela própria ONU e seu objetivo é o de assegurar o uso responsável das tecnologias digitais, em benefício de todas as pessoas. Nele, as soluções de código aberto são vistas como um instrumento para um mundo mais equitativo, reconhecendo que é necessário um esforço global para incentivar e investir na criação dos chamados “bens públicos digitais”, que seriam não apenas o software de código aberto em si, mas também os dados abertos, os modelos abertos de inteligência artificial e os padrões e conteúdos abertos. No GDC, a abertura da infraestrutura da internet é considerada fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), previamente estabelecidos pela mesma organização.[1]

No contexto do Software Heritage, um projeto conduzido pelo INRIA (Institut national de recherche en informatique et en automatique) em parceria com a UNESCO, o software em forma de código-fonte é entendido por sua vez como um tipo de patrimônio cultural, na medida em que é produzido por humanos e é compreensível por eles. Mais do que isso, o software livre seria um facilitador para a preservação de outros tipos de patrimônios que poderiam ser perdidos se o software necessário para preservá-los fosse perdido ou se tornasse inoperante de forma irreversível. Assim, preservar o software cujo código fonte está disponível, acessível e passível de modificação seria algo essencial para preservar o próprio patrimônio cultural da humanidade como um todo.[2]

Nesse contexto mais amplo e internacional, outro ponto de discussão recente é a revolução promovida pelos avanços da inteligência artificial (IA). Tais avanços, como a construção de grandes conjuntos de dados e a melhoria na análise de texto, deram origem a inúmeras aplicações de IA, que podem, se reguladas de modo eficiente, proporcionar benefícios à população em geral. Devido à sua complexidade inerente e aos requisitos em termos de recursos técnicos e conhecimentos, a IA pode prejudicar a capacidade de controlar o próprio uso da tecnologia e colocar em risco algumas liberdades fundamentais. Desse modo, faz-se necessário não apenas a criação de uma legislação robusta sobre a IA, mas que seja capaz de garantir que o uso de softwares e bancos de dados livres sejam uma ferramenta capaz de atenuar desigualdades e garantir algum grau de controle e isonomia.[3]

Passando para questões mais técnicas e específicas, relacionadas ao potencial de colaboração, de segurança e da redução de custos ligados ao licenciamento, nas organizações que contam com pessoas ou equipes ligadas à gestão de “produtos e tecnologia”, ter acesso ao código-fonte de um software em utilização permite potencialmente a possibilidade de entender melhor seu funcionamento, identificar falhas e sugerir melhorias que podem ser úteis não apenas para a organização em si, mas também para seus pares. Isso cria um ambiente de trabalho participativo e democrático, no qual os membros da equipe têm a oportunidade de contribuir para o aprimoramento contínuo das ferramentas utilizadas. Isso permite uma potencial agilidade na resposta às demandas de novos cenários e a possibilidade de inovação contínua.

Nesse mesmo contexto, a adoção de software livre pode ser vista como um potencial fator de redução de custos.[4] Ao optar por soluções de código aberto, uma organização como o WMB pode economizar tanto em custos de licenciamento de software quanto em taxas de manutenção, direcionando esses recursos financeiros para outras áreas, como a execução das tarefas do planejamento estratégico anual e/ou para o apoio à comunidade wikimedista. Organizações em diversos graus de maturidade têm buscado alternativas aos altos custos de licenciamento de software proprietário, que por sua vez cada vez mais adota um modelo de software como serviço, diminuindo a oferta das chamadas “licenças perpétuas”. Desse modo, o software livre tem sido cada vez mais uma solução econômica e, muitas vezes, de qualidade igual ou superior. Cabe registrar, no entanto, que grandes empresas de tecnologia oferecem preços diferenciados ou mesmo gratuidade de softwares e serviços para professores, estudantes e organizações sem fins lucrativos, o que deve ser levado em conta ao se analisar especificamente a questão dos custos financeiros.

Outro ponto relevante é a questão da segurança e, nesse contexto, o uso de software livre também pode contribuir para aumentar a segurança cibernética. Com a comunidade de código aberto revisando e auditando o código-fonte, as vulnerabilidades de segurança tendem a ser identificadas e corrigidas de forma eficaz e eficiente, reduzindo o risco de exposição a ataques cibernéticos. Com o acesso ao código-fonte, organizações com equipes orientadas à gestão de produtos e tecnologia podem integrar esse ciclo de correções, reduzindo ainda mais as possibilidades de exposição a ameaças cibernéticas. Tal vantagem depende, de fato, de uma equipe técnica qualificada, o que é exceção no universo das organizações filiadas de pequeno e médio portes.

Outro desafio enfrentado pelas organizações Wikimedia que buscam a migração para plataformas e softwares livres é a compatibilidade e interoperabilidade com os sistemas legados. Muitas vezes, as infraestruturas existentes são compostas por tecnologias proprietárias e customizações específicas que não possuem equivalência direta no universo do software livre. Essa transição pode envolver então esforços significativos de adaptação, bem como o desenvolvimento de soluções intermediárias ou mesmo substituição total de sistemas críticos. Por isso, tais organizações devem planejar com cuidado uma eventual estratégia de migração e os potenciais impactos no trabalho cotidiano, bem como investir em treinamento e suporte técnico para garantir uma transição suave e eficiente. Isso pode representar um desafio especialmente para organizações que dependem de sistemas críticos para suas operações. No caso do WMB pontualmente, a integração de agenda, documentos compartilhados, controle de acesso e proteção de dados sensíveis que foram estruturados utilizando software proprietário não é de trivial migração para plataformas e software livres e talvez seja algo que exija mais de uma única ferramenta ou plataforma para operar de maneira análoga ao que existe no momento da redação deste documento.

Em suma, embora os benefícios associados à redução de custos, flexibilidade e segurança sejam atrativos, os desafios relacionados à integração, suporte e propriedade intelectual exigem uma abordagem cuidadosa e uma avaliação criteriosa por parte da organização. Nessa avaliação, deve-se levar em conta não apenas os aspectos financeiros imediatos, mas também os impactos a longo prazo sobre a infraestrutura tecnológica e a segurança da informação, uma vez que apesar de defenderem o conhecimento livre, organizações como o WMB lidam com grandes quantidades de informação sensível. Com uma abordagem ponderada e estratégica, tais organizações podem aproveitar os benefícios do software livre enquanto mitigam os desafios associados, tais como alguns dos listados neste relatório.

Contexto específico

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Ao adotar uma abordagem que estimule e favoreça o software livre, o WMB busca demonstrar seu compromisso com os valores mencionados no início deste documento e busca ainda fortalecer sua credibilidade junto à comunidade. Acerca do alinhamento à sua própria missão organizacional, esse documento se alinha ao estabelecido como uma ação dedicada à “ativação, coordenação e transformação social em prol do conhecimento livre”.[5] Observando a história do Wiki Movimento Brasil, a organização teve sua formalização em 2017 e desde então conta com uma gestão relacionada a produtos e tecnologia que almeja e incentiva o uso de software livre, reconhecendo sua importância para a inovação e a colaboração. No entanto, a organização enfrentou ao longo dos anos desafios como a falta de conhecimento técnico e algum grau de resistência interna, o que dificultou a implementação eficaz das soluções livres disponíveis.

Em 2024, o WMB está redigindo um plano abrangente para implementar o uso de software livre de maneira eficaz e sustentável. Esse plano inclui a elaboração de um mapeamento das necessidades e prioridades tecnológicas da organização, a criação de um cronograma de migração e a definição de papéis e responsabilidade para essa transformação. Além disso, o plano prevê ainda um componente de educação e engajamento da equipe profissional, garantindo que todos compreendam os benefícios e estejam preparados para adotar as novas ferramentas. Com esse esforço coordenado, o WMB busca realizar sua visão de um ambiente sustentado por software livre, beneficiando não apenas suas operações internas, mas também contribuindo para o fortalecimento da comunidade de software livre como um todo.

Metodologia

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Tal como descrito na seção de “Apresentação” deste relatório, existe um diálogo tanto com o planejamento estratégico do WMB quanto com sua Teoria da Mudança. No primeiro caso, trata-se de uma ação que busca (re)imaginar a infraestrutura sociotécnica do Movimento Wikimedia e, no segundo, uma busca por responder à questão de quais capacidades organizacionais houve alguma evolução e quais ainda precisam ser desenvolvidas; aqui entendida como uma pergunta norteadora deste relatório.

Metodologicamente, a primeira etapa da produção deste relatório foi a formulação das perguntas de pesquisa. As perguntas foram elaboradas com o objetivo de obter informações do aspecto geral sobre o uso de software livre em organizações análogas ao WMB - outros afiliados Wikimedia - incluindo motivadores para adoção, desafios enfrentados e benefícios percebidos. As oito perguntas realizadas estão reproduzidas no Anexo 1, presente no fim deste documento. Toda a primeira etapa foi conduzida no primeiro semestre de 2024, entre os meses de abril e junho.

Dos entrevistados

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Após a formulação das perguntas de pesquisa, foi realizada a seleção de outras organizações afiliadas à Wikimedia que seriam contatadas para participar da pesquisa. As organizações foram selecionadas com base em critérios como tamanho, similaridade com o Wiki Movimento Brasil e uma estimativa do nível de maturidade no uso de software livre. Em seguida, foi realizado o contato inicial por e-mail, apresentando o propósito da pesquisa e convidando as organizações a compartilharem suas experiências. Uma vez que algumas organizações concordaram em participar da pesquisa, foram enviadas as perguntas de pesquisa por e-mail.

As perguntas foram estruturadas a fim de permitir que os respondentes compartilhassem suas experiências de maneira geral e expor eventuais peculiaridades. Foi estabelecido um prazo para o envio das respostas, garantindo a eficiência e o cumprimento dos prazos da pesquisa. Ao todo 16 afiliados Wikimedia foram contatados, dos quais 6 responderam às questões total ou parcialmente, por meio de respostas escritas ou entrevistas realizadas remotamente.

Das entrevistas

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Durante o primeiro semestre de 2024, responderam às perguntas 6 organizações. A primeira pergunta lida com a existência de um eventual fator motivador de adoção de software livre. As questões de número 2 a 6 tratam dos casos de desafios potenciais e as estratégias de mitigação adotadas. A sétima questão lida com possíveis documentos produzidos pela organização e a oitava e última questão é aberta, na qual há espaço para o relato de benefícios percebidos. As respostas foram organizadas e categorizadas com base nos temas emergentes, observando os tópicos acima relatados: motivadores para adoção, desafios enfrentados e suas estratégias de mitigação e, por fim, os benefícios percebidos. Foram identificados padrões e tendências comuns entre as respostas, fornecendo insights para a compreensão do uso de software livre para o WMB. Em respeito a questões de privacidade e sensibilidade de alguns dos temas abordados nessas entrevistas, nenhum caso, pessoa ou dado escrutinado será apresentado neste relatório.

Síntese e aplicabilidade

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Considerando a primeira pergunta e a observância de um fator inicial motivacional, os fatores mais citados foram a filosofia de compartilhamento e colaboração que permeia o movimento do software livre, que se alinham aos valores do movimento Wikimedia, bem como a questão da redução de custos. No caso deste último, o argumento foi o de que geralmente os afiliados operam com orçamentos limitados e precisam maximizar os recursos financeiros. Contudo, embora as organizações estejam cientes dos benefícios e incentivem o uso de software livre de maneira informal, isso não está codificado em uma política oficial. Além disso, não é imposta uma política para que os funcionários usem software de código aberto em suas máquinas pessoais. Esse panorama encontra eco em respostas que, considerando sempre um contexto de traduções livres, afirmaram que “em 2024, nossa organização não tinha uma política formal que obrigasse ou promovesse o uso de sistemas operacionais de código aberto. Embora estejamos cientes dos benefícios e encorajemos o uso de software de código aberto informalmente, isso ainda não foi codificado em uma política oficial.”

Passando às questões de 2 a 6, que tocam os desafios enfrentados e suas subsequentes estratégias de mitigação, um dos desafios citados foi o da falta de suporte técnico especializado. Para mitigar o problema, uma solução possível seria a do investimento em capacitação interna das equipes, mas é admitido que isso não ocorre com frequência ou mesmo não ocorra em absoluto. Outro desafio citado foi o da resistência à mudança. Mais uma vez uma estratégia de mitigação seria a realização de treinamentos e a criação de um plano de transição gradual. Contudo, como não há imposição do uso de software livre na maior parte dos casos, as organizações acabam encontrando uma zona de conforto na utilização de softwares proprietários que já são de conhecimento pela maior parte da equipe. Nesse contexto, respostas como “(...) não usamos exclusivamente software de código aberto para nossas necessidades de produção. Como uma organização sem fins lucrativos, temos acesso a ferramentas como o Canva, e nosso designer usa principalmente software Adobe” mostram a dependência de softwares e plataformas proprietárias especialmente nas áreas de comunicação e design. Outro relato análogo traz ainda que “(...) para colaborar e compartilhar arquivos com a Wikimedia Foundation, usamos o Google Workspace (Drive). Nosso gerente de comunidade usa ferramentas como Canva e Adobe Suite no Windows, enquanto outros funcionários usam Ubuntu”.

Passando para a questão do uso de redes sociais, a maioria das organizações entrevistadas disse utilizar as principais plataformas de mídia social, como Instagram, Facebook e TikTok, a fim de alcançar um público mais amplo. Embora reconheçam que isso possa parecer contraditório aos valores do movimento, julgam algo necessário para fins de alcance e disseminação. Como exemplo da situação acima, respostas como “Sim, usamos as principais plataformas de mídia social, como Instagram, Facebook e TikTok, para atingir nosso público. Embora reconheçamos que isso pode parecer contraditório aos nossos valores, é necessário, pois nosso público é principalmente ativo nessas plataformas, e elas são essenciais para nossos esforços de divulgação” são capazes de ilustrar o padrão emergente das respostas.

Acerca da utilização do Mediawiki como um potencial substituto do Google Workspace, a opinião majoritária foi a de que o Google Workspace é uma das poucas soluções capazes de atender efetivamente às necessidades da organização e colaboração. Além disso, na condição de organizações sem fins lucrativos, existe uma variedade de recursos gratuitos que são capazes de diminuir as despesas com outros softwares. Em geral, cita-se a aplicação de recursos para softwares de streaming como o Zoom. Para pesquisas, o LimeSurvey foi citado como um bom substituto do Google Forms. Como exemplo, temos o relato abaixo.

Como uma organização sem fins lucrativos, nos beneficiamos de uma variedade de recursos gratuitos por meio do Google Workspace, portanto, nossas despesas com software são mínimas. No entanto, pagamos pelo Zoom, que começamos a usar no início da pandemia devido aos seus recursos de segurança robustos e facilidade de manutenção. Para pesquisas, atualmente usamos o Google Forms, mas planejamos migrar para o LimeSurvey no futuro. Nossos custos de treinamento são baixos porque muitas das ferramentas de software que usamos são amplamente conhecidas e familiares para nossa equipe. Não temos estratégias formais de backup em vigor, mas aderimos a uma política de privacidade de dados que garante que os dados sejam armazenados apenas por um breve período e, em seguida, excluídos com segurança”.

Sobre o Mediawiki especificamente, foi relatado que seu uso poderia trazer problemas para o compartilhamento e restrição de acesso de documentos sensíveis. Em outras palavras, sua natureza de compartilhar os conteúdos publicamente por padrão seria uma limitação potencial, a menos que ele fosse capaz de restringir o acesso a informações sensíveis e publicar apenas conteúdos selecionados, com controle de acesso adequado. Uma das organizações entrevistadas relatou uma parceria com a empresas para hospedar e gerenciar um espaço de trabalho SaaS (linguagem de folhas de estilo) de código aberto. Esta configuração teria sido capaz de fornecer uma alternativa ao Google Workspace ou mesmo o Office 365, e reportou-se ainda que a auto-hospedagem dessas ferramentas foi capaz de reduzir os riscos de forma eficaz. Nessa configuração, utilizaram Blue Mind para calendário e e-mail, Rocket.Chat para comunicação instantânea, BigBlueButton para conferências, Nextcloud + Collabora para hospedagem e documentos colaborativos e LemonLDAP::NG para autenticação.

Sobre a questão da referida auto-hospedagem, parte das organizações não possui servidores próprios, seja pela pequena dimensão dos afiliados, seja por não verem a necessidade de uma infraestrutura de servidores dedicados neste momento. Relata-se, no entanto, que internalizar servidores seria uma boa opção, pois ofereceria maior controle e personalização. Atualmente, contudo, a opção de pagar por serviços externos acaba sendo mais prático devido à falta de pessoal para manter um servidor interno, muito embora houve relatos em que esse serviço era realizado voluntariamente por membros da própria organização. Um dos relatos capaz de ilustrar a situação acima é o de que “(...) não temos servidores próprios. Dado nosso pequeno tamanho, não temos necessidade de infraestrutura de servidores dedicados neste momento. Acreditamos que internalizar servidores é a melhor opção se a necessidade surgir no futuro, pois oferece maior controle e personalização. No entanto, por enquanto, pagar por serviços externos é mais prático para nós devido à falta de pessoal para manter um servidor interno. Os principais problemas com o aluguel de serviços externos incluem preocupações com a segurança, pois depende das medidas implementadas pelo provedor de serviços”.

Ainda acerca da questão de custos, não apenas referindo-se aos custos de hospedagem, um relato relevante e ilustrativo foi o de que “(...) Embora o software de código aberto seja frequentemente gratuito, a migração de sistemas existentes pode exigir investimentos em treinamento, consultoria, personalização e integração, incorrendo em custos de curto prazo para o WMB. Apesar da flexibilidade do software de código aberto, recursos de desenvolvimento adicionais podem ser necessários para adaptá-lo aos requisitos específicos do WMB, particularmente se a funcionalidade essencial estiver ausente. Embora muitos projetos de código aberto ofereçam suporte comunitário ou pago, garantir níveis de suporte e manutenção comparáveis ​​aos fornecidos por fornecedores de software proprietário pode representar desafios para o WMB”.

Passando à sétima e penúltima questão, não houve relatos de guias ou documentos internos específicos produzidos para este fim, muito embora isso tenha sido considerado como algo desejável. Por fim, em relação aos benefícios percebidos pelas organizações, para além da questão ideológica, foram relatados mais uma vez a redução de custos com licenciamento de software, o que liberaria recursos para serem direcionados para outras áreas, bem como a independência em relação aos grandes fornecedores de software.

Assim, considerando o conteúdo presente nesta quarta seção do relatório, ele é capaz de responder em alguma medida sobre quais capacidades organizacionais houve alguma evolução e quais ainda precisam ser desenvolvidas. E, por meio de seus anexos, o relatório é capaz ainda de (re)imaginar a infraestrutura sociotécnica do Movimento Wikimedia.

Agradecimentos

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A elaboração deste documento foi possível graças à ajuda e participação da Wikimedia Austrália, Wikimedia Chile, Wikimedia França, Wikimedia Itália, Wikimedia Inglaterra e Wikimedia Suécia. Às pessoas ligadas a essas organizações que se predispuseram a responder às questões e conversar muitas vezes em horários atípicos, nosso muito obrigado. Registra-se aqui ainda o agradecimento a Alberto Leoncio, Artur Corrêa Souza e Rafael Moretti, pela leitura prévia do documento e apontamentos, bem como à comunidade Wikimedia como um todo, que por meio de páginas como o FLOSS-Exchange no Meta, realiza esforço análogo ao deste relatório.

Anexos

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  • /Anexo1 - base de perguntas
  • /Anexo2 - cronograma de testes
  • /Anexo3 - tabela de equivalência de software de plataformas

Referências

  1. Digital Public Goods | Office of the Secretary-General's Envoy on Technology. Página visitada em 2024-09-04.
  2. Serving the world heritage (em en-US). Página visitada em 2024-09-04.
  3. Lequertier, Vincent. Artificial Intelligence and Free Software - FSFE (em en). Página visitada em 2024-09-04.
  4. Pearce, Joshua M. (1 de outubro de 2020). «Economic savings for scientific free and open source technology: A review». HardwareX: e00139. ISSN 2468-0672. doi:10.1016/j.ohx.2020.e00139. Consultado em 4 de setembro de 2024 
  5. Missão - Wikimedia Community User Group Brasil (em pt-BR). Página visitada em 2024-09-04.